sexta-feira, 11 de março de 2011

"Talvez haja entre nós o mais total interdito
Mas você é bonito o bastante
Complexo o bastante, bom o bastante
Pra tornar-se ao menos por um instante
O amante do amante
Que antes de te conhecer eu não cheguei a ser"

Caetano

Os bonecos gigantes e os muitos panos das roupas alheias sacudindo sob o vento davam a ela um ar de distração. Porque ela olhava e prestava atenção a cada farfalhar, a cada risada, a cada movimento, sem demonstrar o tamanho da ansiedade que sentia. Já estava ao lado dele por longos cinco minutos e nenhum dos dois falava.

As músicas de refrões grudentos tocavam cada vez mais alto, o que fazia impossível não pronunciar automaticamente as palavras repetitivas que compunham suas letras. O céu nublado e a chuva fina contrastavam com a alegria das pessoas ali presentes, que gritavam, bebiam e riam.

As pequenas gotas da chuva fina pareciam pequenos brilhantes sobre o casaco dela. Coisa desinteressante, mas que já captava sua atenção; sua atenção, que implorava por ser captada, por qualquer coisa que fosse, por qualquer pessoa, qualquer gesto, qualquer sorriso. O silêncio entre eles já a torturava.

- É bonito... – ele começou.

- É sim é diferente e é estranho ao mesmo tempo não é você sabe todas essas pessoas mas eu gosto muito muito mesmo parece de outro planeta não é você entende o que digo?

As palavras estavam presas em sua garganta e saíam como vômito, desenfreadas. Ele riu da meninice dela, ela sentiu raiva de si.

Por que aquele estranho a prendia tanto? Por que ela não poderia simplesmente andar para longe dali, dizer tchau, um abraço, prazer, mas tenho que ir, minha amiga me espera? Seus pés pareciam bem fincados no chão e não havia nada que ela pudesse fazer para lutar contra isso. O único jeito de ela sair dali seria se ele pegasse sua mão e a conduzisse para outro lugar.

(continua)