quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Carta ao marinheiro.

“If I had my own world,
I’d build you an empire
From here to the far lands
To spread love like violence
Let me feel you, carry you higher
Watch our words spread hope like fire”



"Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus"


Beloved Sailor,

Não. Não é por duvidar de você que eu escolhi me afastar. É porque sinto medo. Medo de perdê-lo. Medo de que tudo um dia acabe e as coisas lindas sejam esquecidas ou pior: sufocadas pelas coisas feias. Porque, infelizmente, a força da feiura supera, e muito, a força da beleza e um pedaço de coisa feia pode matar mil metades de coisas lindas.

Não. Não é por tristeza que eu choro todos os dias, à noite, tentando me concentrar para suspirar uma oração que me livre de toda aquela ansiedade, de toda aquela agonia. É porque sou insegura. Com muita maldade, alguém, um dia, jogou-me à desilusão, e eu quase morri de tanta decepção. De repente, eu caí. Caí à cama para não levantar mais. Longa semana aquela em que permaneci acamada, aquela em que voltei a ser um bebê que precisa dos cuidados maternos, hora do banho, lá estava minha mãe, pacientemente, lavando meus cabelos. Disso, nasceu minha insegurança, que me fez ter medo. Medo de que você fosse me jogar à desilusão. Medo de que você zarpasse em seu navio e nunca mais voltasse. Medo de que as noites nos pubs próximos ao cais fossem se tornar mais divertidas do que nossas longas conversas por telefone, do que nossas longas cartas um para o outro, do que você, bêbado, me dizendo: “ring me”, e eu, boba, “ok”.

Não. Não foi por maldade que gritei, chorei, e disse: “it’s over”. Foi por não saber lidar com meus sentimentos, tão novos. E eu corri para o consolo tão eficaz daquele geordie, que me dizia, com o autêntico sotaque de Newcastle: “don’t worry, everything’s gonna be fine”. Meu coração estava desmanchado. Despedaçado. Tudo que eu queria era uma palavra a mais de você. Um don’t do this, I love you too much.

Senti-me como uma daquelas mulheres melancólicas dos anos 30, cujo marido parte para a guerra, e ela se senta à cadeira de balanço na varanda, e olha eternamente em direção ao horizonte, esperando que o marido retorne, não importam mutilações, defeitos e cicatrizes, ela só quer a presença dele. Senti-me uma delas quando você estava ao mar e eu precisava checar, todos os dias, aquela caixa de correio, procurando por um envelope azul timbrado com o rosto da rainha.

Aquele retrato me fere. Você sorri nele, sorri e olha-me com seus olhos calmos e azuis. Azuis como o mar que o tira de mim. Apesar disso, aquele retrato me fere. Você, com seu nome de cerveja, com sua tatuagem meio deformada, que carimba um dia de festa, com a pequena cicatriz que os piercings deixaram... Você, sempre tão incontrolavelmente raivoso.

Não. Não é por arrependimento de tê-lo deixado que eu escrevo esta carta. É por não conseguir deixar de amá-lo. É por não conseguir respirar sabendo que não posso mais chamá-lo de “McCandy”. É por não me controlar de vontade de me jogar toda vez que vejo o mar. É por não conseguir viver sem falar na sua língua.

I’ll come to you, my dear Sailor.

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